sexta-feira, 17 de novembro de 2023

As razões do "brasileiro"

Como o gentílico prevaleceu sobre outras formas, como "brasiliense", "brasiliano" e até "brasilês"


Por que são "brasileiros" os que nasceram neste país? De fato, não é comum que o sufixo -eiro  indique procedência, papel desempenhado, preferencialmente pelos sufixos -ense (piauiense, maranhense, brasiliense), -ês (francês, inglês, chinês, e por que não brasilês?), -ano (italiano, boliviano, peruano, e por que não brasiliano?), e -ino (argentino, nordestino, belo-horizontino, e por que não brasilino?). O sufixo -eiro geralmente designa pessoas que exercem determinadas profissões e atividades, como barbeiro, a costureira, o padeiro, o pipoqueiro, o livreiro, o sapateiro, o boiadeiro, o vaqueiro etc.

"Brasileiro" foi palavra cunhada pelos portugueses no século 16, referindo-se ao trabalhador que cortava e comercializava o pau-brasil na Colônia. Por volta de 1817, às vésperas da independência, enxergavam-se duas possibilidades para nomear o habitante da futura nação. Poderíamos nos chamar "brasilienses" ou "brasilianos".

Era aos índios, no entanto, desde o século 16, que estava reservado o gentílico "brasiliano" (bem como "brasílico"), e os nossos patrícios que viviam na Europa, minoria porém, preferiam ser chamados de "brasilienses". Assim, por falta de opção ou talvez por necessidade de autoafirmação nacionalista, assumimos o nome que nascera num clima de certo desdém: venceu a "brava gente brasileira", como cantamos no hino nacional.

Em suma, o adjetivo pátrio "brasileiro", ao lado de "mineiro", que trabalhava nas minas de Minas Gerais, e de "campineiro" (relativo à cidade de Campinas), que atuava nos descampados existentes, no século 18, entre as Vilas Jundiaí e Mogi-Mirim, significa que somos, em nossa origem, verdadeiros trabalhadores. Se quisermos adotar o tom romântico... nossa profissão mais profunda é trabalhar o Brasil, recriá-lo.


Texto de Gabriel Perissé retirado da Revista Língua Portuguesa Especial - Etimologia nº 2, Editora Segmento, São Paulo, Ano II, Março 2007.

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