Este livro chegou na hora certa.
Ele é extraordinariamente importante para todos os animais superiores, o contato, o toque, a proximidade, a carícia. Verdade para o adulto, verdade verdadeiramente vital para todas as crias, filhotes e filhos.
Não pode haver saúde, nem funcionamento pleno, se os sistemas vivos não estiverem ou não mantiverem contatos frequentes.
Mas não é monótono de se ler. A cada página, a cada parágrafo, um fato curioso, surpreendente, engraçado. Ou é uma história de bicho - bem observada, ou alguma história de gente, ou uma experiência bem feita - em laboratório. Uma sucessão ininterrupta de fatos e argumentos, todos entrelaçados, envolventes, fascinantes; porque o estilo é científico, sóbrio, mas o conteúdo é tudo o que sempre soubemos - mas que quase ninguém tem a coragem de viver.
Por isso estamos tão doentes. Falta-nos proximidade, contato; não trocamos carícias nem gostamos que toquem em nós.
Quanto mais civilizados, mais asséptico, mais distante e mais frio. Só palavras. Pouca mímica. Nenhum contato. Por isso foi tão fácil inventar robôs.
Estamos cercados o tempo todo daquilo que mais desejamos e ninguém ousa se apropriar - tocar, abraçar, acariciar - olhos nos olhos...
É bem capaz que, por isso, estejamos nos perdendo, caminhando a passos largos em tantas direções destrutivas. Por isso, não nos juntamos em ação comum em defesa da vida de todos nós, tão ameaçada por tantos perigos, todos se desenvolvendo em velocidade uniformemente acelerada...
Mas, deveras, cabe o "por que" dramático. Por que nos afastamos tanto assim uns dos outros? Que função ou que disfunção é essa? De que doença sofremos? Quanto mais "educados" mais distantes e separados - mais "leprosos"...
Estranha maldição porque, junto com a vida, perdemos horas infindas de prazer e felicidade. Tudo tão aí. Tudo tão impossível.
Estranha maldição. Inclusive seus maiores defensores - do contato e da carícia - não fizemos nada do que pregaram, muito pelo contrário. Falo de Reich e das muitas bioenergéticas que dele nasceram. A maior parte delas parece cena de tortura, não de prazer. De solidão e não de contato.
Por que contradição? Porque a proposição mais importante de Reich enquanto clínico e terapeuta do homem ocidental foi essa: "a pior - a mais insuportável - de todas as angústias é a angústia de prazer".
Então, pergunto: Por que não proporcionar prazer às pessoas permanecendo atento a todos os modos que a pessoa lançará mão a fim de não não sentir o que está sentindo?
Não pode. Só fazer sofrer - aí pode - todos aceitam e aprovam. Fazer feliz é perigoso demais.
Por que os terapeutas fazem assim? Porque eles tampouco sabem manter contato ou sentir prazer. Terapeuta não deve sentir prazer. Quem poderia pensar uma coisa tão... imoral! Primeiro o paciente fica viciado, depois, como é que além de viver feliz o terapeuta ainda cobra!
Logo: o contato é impossível em nosso mundo.
Começa no começo. O autor reitera: Maternidade foi feita para obstetra: nem para a mãe e muito menos para a criança. As Maternidades são um crime contra a natureza e a consequência de seus procedimentos que ainda ousam acreditar científicos ainda serão bem avaliadas um dia e ver-se-à, então, que o Circo Romano era menos cruel.
Porque, nas dulcíssimas palavras da santo cientista, "humanizar-se é viver aprendendo e sendo cada vez mais gentilmente amoroso".
Este livro chegou na hora. Em poucos anos tirou edições novas, cada qual mais recheada de fatos e experiências.
Que seja muito lido.
Que comece a acontecer!
Texto de José Ângelo Gaiarsa para a Apresentação da Edição Brasileira do livro Tocar - O Significado Humano da Pele, de Ashley Montagu, tradução de Maria Sílvia Mourão Netto, Summus Editorial, 4ª Edição, São Paulo, 1986.
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