terça-feira, 11 de agosto de 2020

O Princípio (1)

A história humana divide-se em dois grandes períodos: a idade da Pedra e a Idade dos Metais. Há registros escritos deste último, iniciado por volta do ano 3000 a. C., correspondendo à história das nações civilizadas. A Idade da Pedra subdivide-se em: Paleolítico (antiga Idade da Pedra) e Neolítico (nova Idade da Pedra). O período Paleolítico da pré-história é muito longo - de 500000 a 10000 a.C.

Vivia-se nos bosques, provavelmente nas árvores, a maior parte do tempo, devido à presença de animais selvagens, e a alimentação consistia apenas em raízes e frutos. A descoberta do fogo tornou os homens mais independentes do clima e do lugar. Podiam cozinhar, afugentar animais, iluminar as cavernas. Adquiriram maior autonomia.

O primeiro representante do Homo Sapiens foi o homem de Cro-Magnon, no Paleolítico superior, isto é, nos últimos 35 mil anos. Na caverna de Cro-Magnon, em Les Eysies, França, foram encontrados, em 1868, os primeiros restos desses nossos ancestrais. Eram fortes e tinham, em média, 1,80 metro. Viviam da caça e da coleta de alimentos, e, para sobreviver, dependiam da parceria entre homens e mulheres.

O temor diante do mistério da vida e da morte era expresso em rituais e mitos associados à crença de que os mortos pudessem renascer. Desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação. Os homens não imaginavam que tivessem alguma participação no nascimento de uma criança, o que continuou sendo ignorado por milênios. A fertilidade era característica exclusivamente feminina, estando a mulher associada aos poderes que governam a vida e a morte. Embora tudo indique que tivesse mais poder do que o homem, não havia submissão. A ideia de casal era desconhecida. Cada mulher pertencia igualmente a todos os homens, e cada homem, a todas as mulheres. O matrimônio era por grupos. Cada criança tinha vários pais e várias mães e só havia a linhagem materna.

Arqueólogos encontraram quase 200 estatuetas que testemunham o culto à fecundação. Nenhuma representa o ato sexual ou qualquer sinal de erotismo. A maioria foi descoberta na Europa Central e data de uma época entre 30000 e 25000 a. C. Eram feitas de marfim de mamute, pedra macia ou argila misturada com cinza e depois cozida. O resto nunca foi retratado.

Ao que parece, o símbolo sexual do período Paleolítico foi a mais famosa dessas estatuetas: a Vênus de Willendorf, desenterrada nesse local, próximo a Viena, na Áustria. Tem mais ou menos 12 centímetros de altura e representa uma mulher de nádegas e seios imensos, quadris largos, barriga muito proeminente e uma grande fenda vaginal. Seu significado é discutido. O mais provável é que seja uma deusa primitiva da fertilidade. Supõem alguns, entretanto, ser expressão do erotismo masculino, isto é, "um análogo remoto da atual revista Playboy".

O prazer encontrado nessas figuras sexuais causou indignação em alguns historiadores contemporâneos. "A vida sexual na era Paleolítica deve ter sido sem qualquer erotismo, porque essa Vênus não passava de um monte de banha", afirma um deles. Talvez a gordura funcionasse como proteção contra o frio, mas, também, nada indica que a estética ocidental moderna se aplique ao Paleolítico. Ao contrário, temos de levar em conta que o homem da Idade da Pedra pudesse vê-la como objeto de seu desejo, ansiando por refestelar-se nas banhas de sua Vênus após um dia exaustivo dedicado à caça.

Os vestígios Paleolíticos de estatuetas femininas, assim com as pinturas e os objetos encontrados em mais de 60 cavernas desse período, revelam uma forma de religião em que o feminino ocupava lugar primordial. São manifestações do culto a uma deusa-mãe como fonte regeneradora de todas as formas de vida. Ao longo dos milhares de anos que se seguiram, a adoração à Deusa intensificou-se em culturas cada vez mais avançadas.

Trecho do capítulo 1 O Passado Distante, do livro A Cama na Varanda, de Regina Navarro Lins, Editora Best Seller, 5ª edição, 2005.

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