segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Ângela RoRo 1984

Meus queridos, meu desejo é nossa paz!

Um dos lados interessantes da vida terrena humana é o acumular de sensações, informações e conhecimento através dos tempos.

A sabedoria é a junção em funcionamento de tais elementos. Minha engenhoca e eu até hoje chegou à conclusão de que a única forma de se viver e até de se alcançar a felicidade é ser aberto para questões, ter fé, ser honesto e sadio, e ter uma coragem lúcida ao se imolar a cada respirar! Nem que para isso seja preciso doer o sacrifício, pois nada funciona sem o desgaste; portanto, é melhor se utilizar de tal num sentido positivo e construtor.

Estes últimos três anos têm sido para mim uma verdadeira prova de fogo, pois socialmente fui destituída de crédito, afeição e respeito, em vias da injúria, oportunismo e maldade, causando sérios problemas psico-emocionais e até de ordem física em minha pequena pessoa. E assim venho tendo experiências profundas em relação à vida, pois confesso ter tido infância das mais felizes e admito ser minha vida a ventura mais singela e gostosa que pude saborear. Apenas posso dizer e cantar as alegrias e as dores naturalmente como elas existem, ponderar e agir conforme o bem me acelera e o mal me apavora!

Eu só e só nós podemos fazer algo que nos salve diariamente, antes que a desordem e o caos tenham tomado uma proporção absurda e inadequada ao poder íntimo e acanhado do ser humano, tão pretensioso! E se de todo for bem difícil, quase impossível, e quando a vergonha e a dor nos arrastarem para um estado de letargia ou histeria negativas, o que realmente devemos fazer é saber por que elas nos levam e de onde vieram, para que possamos convidá-las para o chá e entrarmos em acordo, pois todos os inconvenientes, sofrimentos e cruéis seres são sensíveis ao convite à dança, especialmente se tratando do ritmo do amor, sedutor e controlador da miséria! Viva a natureza! Viva a paz! Viva o trabalho! Viva o esforço! Viva a comunidade! Viva o amor!

Meus infinitos agradecimentos à Pelmex, Letícia, Glauber, Vovó Josina, Mamãe, Papai e tia Tereza. Aliás, falando em família, que é comumente a viagem inicial e marcante de cada pessoa, devo gritar que Papai e Mamãe são e foram as coisas mais lindas que já me aconteceram. Leais, destemidos, bravos, guerreiros, sábios, espontâneos, sérios, malucos, livres, pagãos, honestos, mísitcos, íntegros, fabulosos, amantes dedicados, fervorosos, legítimos, sadios, bons e crentes no dia de amanhã por ser o dia seguinte! A gratidão!

A malícia e a pureza andam juntas pelos paraísos da vida!

Hoje já acho fácil compreender a irmandade entre o prazer e a  divindade, coisa que outrora, confesso, por formação me  chegava com certo paradoxo. E como é bom saber que o gostoso é sagrado e o sagrado é absolutamente recheado de gostosura...

Espontaneamente agradeço a herança generosamente deixada por todas as ancestrais mulheres que foram anjos, à sabedoria de minha uterina Mãe, minha uterante Vó e às minhas ultra-amantes, especialmente e só por ela, minha amada, cujo corpo é entrega, cuja cabeça é questionamento e cuja alma é minha namorada!

Depositar culpa ou pretexto em males sociais para amenizar o remorso de males pessoais é nocivo e idiota, pois que assim seria eu uma guerrilheira homicida e não esta simbólica boêmia suicida.

Portanto, meus queridos, eu vou à luta maior que é ser feliz, e  deixar uma partícula de prazer neste mundo de dores!

Povo que não goza pensando em Deus, pois só Deus, a energia total, é responsável pela exuberância da vida, é povo triste, revoltado, rancoroso, limitado e impotente!

Vamos à luta! Vamos à pureza do gozo! Vamos dar a volta por cima, cuspindo em todos os valores absurdos e mesquinhos, e  fazermos nossa lei sob a luz divina, e na nobreza de nossos corações soltarmos as amarras do medo e partirmos seguros e sãos em direção à liberdade de ser, amar e gozar!

Somos anjos carnais, a vergonha não nos cabe!

É de nosso direito a comida, o ar puro, o voto, o respeito, a vida! Viva Gandhi! Viva Ché! Viva Joana D'Arc! Viva Jesus! Viva Leila Diniz! Viva a gente!

Texto publicado no encarte do então LP de 1984 de Ângela RoRo intitulado A Vida É Mesmo Assim...

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