sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Nanã-Buruku

Considerada o orixá mais antigo do mundo, Nanã-Buruku tem ligações com o lado feminino dos criadores da Terra.


    De origem daomeana, Nana foi incorporada há séculos pela mitologia iorubá, quando o povo nagô conquistou o povo da região de Daomé, assimilando sua cultura e incorporando alguns orixás dos dominados à sua mitologia.

    Nanã está associada aos mitos e lendas sobre a criação da Terra, sendo precursora de todos os deuses que têm o poder de gerar vida. Por ser um dos primeiros orixás criados por Olodumaré, é caracterizada como uma anciã ou uma avó.

    Segundo a tradição, ela existe desde tempos remotos anteriores à descoberta do ferro e, por isso, em seus rituais não devem ser utilizados objetos cortantes de metal. Nunca deve ser invocada sem um motivo muito forte, pois é um orixá muito poderoso e de tendência devastadora quando provocado.

    Nanã pode ser considerada o lado feminino dos criadores do mundo, pois é conhecida como a "Grande Senhora" das terras molhadas e fecundas, com a qual foram criados todos os seres. Ela reina na lama - que criou a vida na Terra - nos pântanos e nas águas paradas. Ao mesmo tempo em que dá a vida, faz com que as criaturas retornem ao seu elemento de origem para depois renascerem na terra, representando assim o ciclo da vida e da morte.

    O termo Nanã significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra. É considerada uma figura controvertida do panteão africano: em alguns momentos é perigosa e vingativa, em outros se sente relegada a um segundo plano, guardando ressentimento pela situação.

    Narra a lenda que, em sua passagem pela Terra, Nanã desprezou seu filho primogênito com Oxalá, Obaluaê, por ter nascido com diversas doenças de pele, abandonando-o na praia. Iemanjá o encontrou quase morrendo, cuidou dele e o criou como filho. Quando Oxalá soube do que Nanã havia feito, condenou-a a ter mais filhos, que nasceram anormais (Ossain, Oxumarê e Ewá), e ordenou que vivesse num pântano sombrio e escuro.

    Nanã é a deusa do reino da morte, sua guardiã, que recebe os mortos os acalenta e aquece, repetindo a vida intrauterina para um posterior nascimento.

    Nanã Buruku é conhecida no Brasil como a mãe de Obaluaê e é sincretizada com Sant'Ana. Seus colares são de cor branca com listras azuis. Para alguns o seu dia da semana é a segunda-feira, como Obaluaê, e para outros, o sábado. Seus adeptos dançam com dignidade, representando uma senhora idosa e respeitável. Seus movimentos lembram um andar lento e penoso, apoiado num bastão. Os búzios também fazem  parte de seus paramentos, ornando seu cajado, o ibiri. Seus preceitos são extremamente complexos e ricos em detalhes.


Arquétipo


    Nanã Buruku é o arquétipo das pessoas que agem com tranquilidade, respeito, gentileza e dignidade. São pessoas lentas e agem sempre com segurança. Gostam de crianças e as educam com muita mansidão, lembrando a tolerância e paciência das avós. Suas reações sempre são equilibradas e a sabedoria de suas decisões as mantém no caminho da justiça. Não têm muito senso de humor e transformam com facilidade pequenos problemas em grandes dramas. Ao mesmo tempo, têm uma grande capacidade de compreensão do ser humano, pois perdoam e consolam as pessoas de uma forma muito natural.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial: Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

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