quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Obaluaê

 Obaluaê significa "Rei e Dono da Terra" e é um orixá relacionado à terra seca e quente, com o calor que lembra a febre das doenças contagiosas. Seus trajes de palha escondem o segredo da vida e da morte.


    Obaluaê é um orixá da cultura da região de Daomé, que foi assimilado pelos iorubás. Enquanto os orixás iorubanos são extrovertidos, alegres de pequenas falham que os identificam com os seres humanos, os deuses daomeanos estão mais associados a uma visão religiosa, em que existe um distanciamento entre deuses e homens.

    Obaluaê era visto como fonte de perigo e terror, sendo a marca da passagem de doenças epidêmicas, castigos sociais, catástrofes. Era considerado aquele que punia os malfeitores enviando-lhes doenças, como a varíola.

    Obaluaê é a forma jovem do orixá Xapanã, enquanto Omolu é sua forma velha.

    Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como na Umbanda, não deve ser mencionado pois pode atrair doenças de forma inesperada. Omolu é a forma que mais se popularizou, e acabou sendo confundida não apenas com a forma mais velha de Obaluaê, mas com sua essência genérica.

    O termo Obaluaê é constituído pela contração de Oba-'Iu'aiye, o rei que é senhor da terra e é também chamado Oluwa Aiyê, Senhor da terra. A ela pede licença para o uso da terra. Sua veste é de palha da costa e esconde o segredo da vida e da morte. Todos o temem, por enviar as doenças, muitas vezes, como castigo ou como desígnios divinos para uma renovação da vida, ao mesmo tempo em que pode causar moléstias (lepra, varíola, peste, eczemas, malária, etc.).

    De acordo com antigas lendas, Obaluaê nasceu com o corpo todo coberto de chagas, que ficavam escondidas sob suas vestes de palha. Foi por meio de sua própria força interior que ele conseguiu curar-se e também desvendar os segredos das doenças que atingem os seres.

    Obaluaê está ligado ao elemento terra, e é detentor de seus segredos. Tem ligação com as árvores e com os espíritos que as habitam. Seu santuário fica geralmente fora de casa ou da aldeia.

    No Brasil, Obaluaê é associado a São Lázaro, São Roque e São Sebastião. 

    As pessoas que lhe são consagradas usam dois tipos de colares: de contas marrons com listas pretas ou o Iagidiba, feito de pequenos discos de chifres de búfalo.

    Seus iaôs (filhos de santo) dançam inteiramente vestidos de palha da costa. Na cabeça, usam um capuz da mesmo palha, cujas franjas cobrem o rosto. Dançam curvados para frente, como que atormentados por dores e imitam os tremores da febre.

    Em muitas lendas, Obaluaê é apresentado como um orixá que perdeu uma perna. Desta forma, muitos de seus filhos podem sofrer de algum problema em seus membros inferiores. Segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado.


Arquétipo


    O arquétipo de Obaluaê é o de pessoas que gostam de exibir seus sofrimentos, tristezas e desgraças. Mesmo quando atingem situações estáveis, podem rejeitá-las por escrúpulos tolos e imaginários. Em algumas situações se empenham no bem-estar dos outros, colocando de lado seus próprios interesses. No entanto, sua característica mais marcante é o convívio com o sofrimento que se manifesta numa tendência de autopunição, transformando traumas emocionais em doenças físicas. Sua maior insatisfação não é contra a vida, mas contra si mesmo. Não são pessoas de levar desaforos para casa e nem têm o hábito de falar pelas costas. Odeiam fofocas e vulgaridades do gênero. A solidão é muito peculiar a essas pessoas, devido à sua própria personalidade.


Texto retirado da revista Sexto Sentido Especial: Orixás; Mythos Editora, São Paulo, 2010.

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